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quarta-feira, 18 de abril de 2007

Em que cultura caminham
seus pés?


Uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro (O braço direito sem fins lucrativos do IBOPE) mostra que 76% dos alfabetizados no Brasil não conseguem compreender textos mais longos do que uma simples nota de jornal, embora esse fato tenha raízes históricas.
Não há dúvida de que, no Brasil, o início da martirização cultural de nosso povo chegou com a esquadra de Cabral e mais tarde o produto cultural e exportável mudou o cenário dessa terra onde “tudo que se planta, dá”.
O que seria cultura afinal de contas? Antes de qualquer coisa, é necessário questionar se o nosso país está livre e se a população participa de fato de uma sociedade democrática. O Brasil é um país democrático?
As respostas às perguntas acima não são animadoras, a maior parte da população é marginalizada e, por esta perspectiva, é possível traçar, por si só, o perfil da cultura brasileira; um povo ainda submisso, não mais à cruz portuguesa, mas à cultura televisiva, embora a Antropofagia tentasse, nos meados do século XX, retornar ao primitivismo e devorar a cultura de importação trazida da Europa, transformando o produto importado em exportável, fazendo os valores da terra gritarem por justiça cultural.
Nessa direção, da mesma forma que os jesuítas tentaram traçar a educação dos índios entre os séculos XV e XVI, nesses últimos dias, a classe dominante tem estabelecido um projeto de educação e cultura para os nossos filhos, por sua vez, os pais transferiram a tarefa dos primeiros passos para escola tornando-a detentora dos caminhos da vida devido à ansiedade por um padrão de vida mais elevado, acreditando que o padrão de vida, por si só, seja uma congruência entre a ética, bem - estar, educação e religiosidade e por esse motivo a escola atual tem em suas mãos novas incumbências.
É ai que mora o perigo, no passado os pais eram responsáveis em guiar a educação dos filhos, hoje quem dita a regra de como eles devem se vestir e se comportar é a mídia. Então, querido pai, o que seus filhos estão aprendendo? Qual a herança que eles levarão aos seus futuros netos, depois de alimentar-se de tanto lixo cultural, em qual cultura caminham os seus pés?
De uma coisa é certa, nunca se viu tantas cenas de violência, incentivo à bebida alcoólica, ao fumo e ao sexo livre nos comerciais, filmes, novelas e programas de entretenimento como hoje, levaram o corpo feminino à banalização, o nu de tão mostrado ficou sem graça, as cores passaram a explodir em bombas, tiros e muita morte nos desenhos infantis, por isso as cidades estão cada vez mais selvagens, a educação caiu a níveis subterrâneos, as perspectivas de emprego estão ficando quase nulas para uma boa parcela da população que se farta em “balançar a bundinha”, malhar os músculos com anabolizantes e entrarem numa pré-depressão por não aceitar o corpo que a mídia diz não ser belo.
Enfim, mudaram as crianças, os adultos, os jovens, tudo mudou e cada qual tem sua parcela de culpa.
Essas e outras mensagens estão embutidas na marginalização da cultura, quando no passado, as canções nos transportavam a mundos inimagináveis de poesia, enquanto hoje, é muito batido, muito som e nenhuma letra, as crianças estão perdendo a pureza e obrigadas a serem um adulto precoce, as famílias perderam a coesão e a coerência, não se reúnem mais à mesa, não partilham mais de um bom diálogo, porque relaxaram na sua missão de educar, deixamos os valores morais e divinos serem trocados pela falsa filosofia do Carpe Diem sem rever as conseqüências do amanhã, ficamos preocupados em aumentar o padrão de vida e esquecemos nossos filhos diante do vídeo - game, Internet e novelas. Portanto, se as crianças aprendem o que vêem, irão aprender tudo isto sentadinhas no sofá, os nossos filhos estão sendo os alunos da mídia nas aulas de ética, moral, filosofia e psicologia, enquanto nós adultos deveríamos ser os avaliadores dessas aulas, mas ficamos alheios colocando a culpa no sistema sem entender que devemos ser leitores críticos para não sermos vítimas: Gravidez precoce, drogas, delinqüência infanto - juvenil, desemprego, escassez dos valores éticos e familiares, banalização da cultura.
Se voltarmos ao passado, os jovens eram politizados em relação à situação do país, iam às ruas protestar, hoje vão às ruas sem saber onde estão andando e em que caminho está traçado o seu destino.
Por outro lado, é decepcionante ver que a escola também começou a perder a rédea, galgando por pedagogias transitórias de belas nomenclaturas com seus remédios em livros maravilhosos os quais não conseguem explicar a ineficácia do ensino nem mesmo sarar suas feridas, quando antes era a tábua de salvação, o futuro para mentes brilhantes, homens e mulheres responsáveis, hoje está se tornando um estacionamento enfileirado de alunos que não sabem onde estacionar seus objetivos, pois o investimento do governo em relação à educação mais parece um saco furado, enquanto o seguimento privado entrou para interferir, gerando programas educacionais de aceleração e alfabetização por entender que uma juventude não leitora assusta e põe medo. Com isso, os jovens sem a oportunidade de leitura e emprego estão gritando alto demais, por outro lado a hipócrita sociedade excludente está de mãos atadas pedindo o fim da violência e o efeito e a causa de tudo é isto é óbvia: criaram um monstro e agora estamos com medo dele.
O que está acontecendo? Em que caminho trafega a nossa cultura, os nossos valores, a ética, os bons costumes e a educação?
Discutir alternativas será o seu papel, mas retornar a fazer cada um a sua parte é o nosso dever, para que mais tarde não comamos esse pão que nós mesmos estamos amassando.

Até à próxima!
André Silva

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