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sábado, 17 de novembro de 2007

Liberdade cristã
e o cancro das verdades humanas

Bastava uma palavra e o impossível acontecia, foi assim que Deus usou a liberdade da sua palavra para criar o mundo, mais tarde, Cristo, enquanto Verbo encarnado, não se deteve diante de tantos arroubos, dificuldades, omissão, invejas e traições, pois a sua palavra soava livre de qualquer vírus transmissor de discórdia e com misericórdia suspirou à beira da morte um pedido de perdão junto ao Pai a todos aqueles a quem não o entendeu, mesmo assim, o maior desejo de Cristo era o de liberdade: a liberdade da alma.
Nessa direção, Madalena corre ainda prisioneira ao sepulcro, mais tarde Cristo com sua ressurreição, sentencia a liberdade a todos sem exceção, mas os apóstolos continuaram meses detidos mesmo depois da ordem expressa do Mestre: “Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16।15)

O que significa então, esse “Ide”, para você?

No bojo das relações humanas, percebemos que o “Ide”, descaracterizou-se em relação ao intervalo entre o ser e o não ser, passamos a construir nosso sistema feudal, depois de termos sido alcançados pela graça dAquele que nos libertou, para mais tarde nos algemarmos a tanta ideologia, preconceitos e “plaquissísmo”, o “Ide” a todo mundo, ficou tão longe, que nem temos coragem de ir ao vizinho ou mesmo ao colega de banca lá na faculdade, porque nosso feudo de sonhos e realizações, esqueceu-se da tarefa que liberta, mesmo sem estarmos libertos, pois a Palavra não respeita nosso comodismo, ela vai assim mesmo sem nossa boca, às vezes embolando pela calçada empoeirada em forma de literatura que algum curioso apanha e lê, medita e se transforma no transcurso em que naquele momento muitas bocas se calam.
Há muitos motivos os quais tornam a liberdade cristã numa pseudo-prisão e podemos crescer e acompanhar a trajetória daquele o qual não se deteve a nada: nem a ideologia política, nem as amarras da cultura, nem mesmo aos arroubos da carne, é verdade, falo de Paulo, para ele, divulgar o nome de Cristo e seu Evangelho foi o maior prazer. Quando solto não temeu diante daqueles que o quiseram prender e matar, ainda que preso, deu um jeitinho de divulgar e levar a Palavra aos necessitados, podemos dizer que o “Ide” foi efetuado por este homem. (Atos)

E se Paulo vivesse hoje em nosso sistema capitalista e cheio de arrumadinhos? Certamente, Paulo não estaria estagnado como nós, preso a nossa própria liberdade, se ele usasse os púlpitos de hoje, a graça seria melhor distribuída aos sedentos e, ao invés de tanto favoritismo e oba-oba, não faltaria liberdade, pois Paulo certamente não teria o rabo preso com o sistema, pois importava alcançar as almas, não interessava de onde elas vieram, como elas estão vestidas, não importa seu relacionamento com o poder que rege o meio, Paulo com certeza teve uma, entre tantas boas intenções, ganhar e não só ganhar, mas também estabelecer almas num só corpo que é Cristo.
Para muitos, cristianismo virou placa e moda, o “Ide”, verbo mais importante do Evangelho, acomodou-se nos tantos louvores de vitória, porque a ambição pelas vitórias terrenas é tanta que o céu prometido por Cristo virou miragem em conto de fada. Esquecemos que Cristo morreu em resgate de muitos e não apenas em favor de nosso mundinho de sonhos, do piso de nossa igreja que precisa ser ladeado de mármore, mas em favor das almas que perecerão no inferno por tanta negligência de um cristianismo que só fala, mas não faz, que se calou depois de grandes bravuras de nossos irmãos em Cristo lá no início da igreja em Atos, um cristianismo que acorda pela manhã e vê o seu povo preocupado com a opinião da astrologia, da mídia e do meio, pois não está mais conseguindo sobreviver sem o meio, tudo isto por que estamos insensíveis às palavras do Mestre, mas sensíveis à luta pelos cargos eclesiásticos, pelos melhores assentos no templo, pelos espelhos que cegam nossa sede de transcendência, falamos muito do céu, mas nossa falta de amor ao outro, a Palavra e a obra de Deus já nos deixa sentir as chamas arderem nossa alma e consciência por tanta hipocrisia.
“Tudo, ó Cristo, a ti entrego; tudo, sim, por ti darei”.
Sua liberdade cristã tem deixado você fazer tudo por Cristo, por amor a Ele ou apenas o que é conveniente a você?
Miserável liberdade que nos condena, mesmo assim, Cristo liberta dessas amarras quando queremos caminhar nEle, com Ele e por Ele, ainda que custe sofrimento, perseguição, invejas, tramas, deboches, porque, quem nasce de novo ainda que preso a qualquer coisa ou “liberdade”, deixa a Palavra caminhar sem medo, ninguém pode deter a verdade, pois a Palavra é poder, Ela cura almas e torna livre qualquer cativo, mesmo ainda os de pouca fé, os de pouca roupa ou os de pouca palavra.
Mesmo sem a liberdade, grandes nomes fizeram o papel que cabe a nós hoje e viraram mitos, porque se libertaram do meio e das ideologias impostas pela sociedade, quisera eu saber se houve para estes liberdade em Cristo à beira da morte. São Francisco de Assis, madre Tereza, Ghandi e outros certamente teriam a coragem de Paulo em divulgar Cristo, mas preferiram divulgar o amor ao próximo, porque acreditaram que por esse viés Cristo já se faria revelado sem intenções como aquele bom samaritano, não me atrevo em dizer aqui que a liberdade do Evangelho não os alcançou antes do suspiro final, prefiro dizer apenas que o “Ide” precisa hoje de um pouco deles em nós, pois o que eles fizeram em prol de uma ideologia sem Cristo, poderíamos ter ao menos coragem de fazer mais por saber que Cristo está em nós.
O que motivam pessoas a subir escadas de joelhos, amarrar bombas na cintura, deixar tudo e sair como peregrino, deixar o mundo pra viver em mosteiros suas vãs filosofias? O bojo motivador desejo de ir – sendo, não deveria ser também o nosso?
O problema é que a liberdade que deveria desembocar em nós como parâmetro medidor de compromisso e obediência, acabou lavando nossas mãos com águas da omissão, dessa forma acabamos passivamente nos acostumando com os clichês que a cultura montou sobre a figura de Cristo sem perceber que o Jesus dos Evangelhos é bem diferente. Com os clichês, o cristão não precisa pensar em compromisso, as bênçãos são mais importante, a prosperidade é o alvo, disputar cargos na igreja é o primordial, enquanto as almas estão morrendo.
Com isso, compreender a liberdade requer, antes de tudo, se estabelecer na verdade de Cristo através de seu Evangelho, então pergunto a você: o que é a verdade? Você está andando na verdade de Cristo revelada em sua Palavra ou em sua própria ideologia de verdades?
Saiba: viver a liberdade através da verdade de Cristo requer suor, lágrimas e desertos, mas viver nossas ideologias cheias de verdades nos conduz a uma pseudo liberdade até então confortável e justa, acreditando, como os fariseus, que suas atitudes exteriores poderiam levá-los ao céu, sem lembrar que no céu só entra santo, lavado, remido, com frutos verdadeiros e sem hipocrisia.
Sendo assim, enquanto os “muitos chamados” se omitem por dentro e faz por fora numa ideologia cheia de verdades humanas, os poucos escolhidos, continuam conscientes de seu papel em semear a Palavra que liberta, porque é livre em Cristo, livre do comodismo, livre do legalismo que abafa a Graça, livre para dar frutos onde quer que vá e esteja, livre dos contratos ilícitos com o poder, livre para ser o que é, sem medo, apenas com medo de não ser livre e de se acomodar com tudo que está ai, bem na nossa frente.

Até à próxima!