O Sermão da Montanha: Pare, leia e reflita!
Se o Sermão da Montanha, em
Mateus 5, é ou não relevante para a vida moderna, só se pode julgar através de
um detalhado exame do seu conteúdo. O que salta à vista é que, não importando
como ele foi composto, forma um todo maravilhosamente coerente. Descreve o
comportamento que Jesus esperava de cada um dos seus discípulos, que são também
cidadãos do reino de Deus.
Vemos como Jesus é em si mesmo,
em seu coração, em suas motivações, em seus pensamentos, e também quando
afastado, sozinho com o seu Pai. Vemo-lo na arena da vida pública,
relacionando-se com o próximo, exercendo misericórdia, patrocinando a paz,
sendo perseguido, agindo como sal, deixando a sua luz brilhar, amando e
servindo aos outros (até mesmo aos seus inimigos), e dedicando-se acima de tudo
à expansão do reino de Deus e da sua justiça no mundo.
Talvez, uma rápida análise do
Sermão ajude a demonstrar a sua relevância para nós.
1. O caráter do cristão (5.3-12)
As bem-aventuranças enfatizam
oito sinais principais da conduta e do caráter cristãos, especialmente em
relação a Deus e aos homens, e as bênçãos divinas que repousam sobre aqueles
que externam estes sinais.
2. A influência do cristão
(5.13-16)
As duas metáforas do sal e da luz
indicam a influência que os cristãos devem exercer para o bem na comunidade se
(e tão somente se) mantiverem o seu caráter distinto, conforme descrito nas
bem-aventuranças.
3. A justiça do cristão (5.17-48)
Qual deve ser a atitude do
cristão para com a lei moral de Deus? Ficaria a lei propriamente dita abolida
na vida cristã, como estranhamente afirmam os advogados da filosofia da
"nova moralidade" e da escola dos "não-mais-sob-a-lei"?
Não. Jesus não tinha vindo para abolir a lei e os profetas, disse ele, mas para
cumpri-los. E mais, ele chegou a declarar que a grandeza no reino de Deus se
media pela conformidade com os ensinamentos morais da lei e dos profetas, e que
até mesmo entrar no reino era impossível sem uma justiça maior do que a dos
escribas fariseus (5.17-20). Jesus deu, então, seis ilustrações desta justiça
cristã melhor (5.21-48), relacionando-a com o homicídio, com o adultério, com o
divórcio, com o juramento, com a vingança e com o amor. Em cada antítese
("Ouvistes que foi dito... eu, porém, vos digo..."), rejeitou a
acomodada tradição dos escribas, reafirmou a autoridade das Escrituras do Velho
Testamento e apresentou as decorrências plenas e exatas da lei moral de Deus.
4. A piedade do cristão (6.1-18)
Em sua "piedade" ou
devoção religiosa, os cristãos não devem se acomodar nem com o tipo hipócrita
dos fariseus, nem com o formalismo mecânico dos pagãos. A piedade cristã deve
se destacar acima de tudo pela realidade, pela sinceridade dos filhos de Deus
que vivem na presença de seu Pai celestial.
5. A ambição do cristão (6.19-34)
O "mundanismo" do qual
os cristãos devem fugir pode ter aparência religiosa ou secular. Por isso,
devemos ser diferentes dos não-cristãos, não apenas em nossas devoções, mas
também em nossas ambições. Cristo modifica especialmente a nossa atitude para
com a riqueza e os bens materiais. É impossível adorar a Deus e ao dinheiro;
temos de escolher um dos dois. As pessoas do mundo estão preocupadas com a
busca do alimento, da bebida e do vestuário. Os cristãos devem ficar livres
destas ansiedades materiais egocentralizadas e, em lugar disso, devem
dedicar-se à expansão do governo e da justiça de Deus. É o mesmo que dizer que
a nossa ambição suprema deve ser a glória de Deus, e não a nossa própria
glória, nem mesmo o nosso próprio bem-estar material. É uma questão do que
buscamos "em primeiro lugar".
6. Os relacionamentos do cristão
(7.1-20)
Os cristãos estão presos em uma
complexa teia de relacionamentos, todos eles partindo do nosso relacionamento
com Cristo. Quando nos relacionamos devidamente com ele, os nossos demais
relacionamentos são todos afetados. Novos relacionamentos surgem, e os antigos
se modificam. Assim, não devemos julgar o nosso irmão, mas servi-lo (vs. 1-5).
Devemos também evitar oferecer o evangelho àqueles que decididamente o rejeitam
(v. 6); devemos continuar orando ao nosso Pai celestial (vs. 7-12) e tomar
cuidado com os falsos profetas, que impedem que muita gente encontre a porta
estreita e o caminho difícil (vs. 13-20).
7. Uma dedicação cristã (7.21-27)
O último item apresentado pelo
todo do Sermão relaciona-se com a autoridade do pregador. Não basta chamá-lo de
"Senhor" (vs. 21-23) ou ouvir os seus ensinamentos (vs. 24-27). A
questão básica é se nós somos sinceros no que dizemos e se fazemos o que ouvimos.
Deste compromisso, depende o nosso destino eterno. Só quem obedece a Cristo
como Senhor é sábio, pois quem assim procede está edificando a sua casa sobre o
alicerce da rocha, que as tempestades da adversidade e do juízo não serão
capazes de solapar.
As multidões ficaram perplexas
com a autoridade com que Jesus ensinava (vs. 28, 29). É uma autoridade à qual
os discípulos de Jesus de cada geração devem se submeter.
A questão do senhorio de Cristo é
relevante hoje em dia, tanto com referência a princípios como à aplicação
prática, da mesma maneira que o era quando originalmente ele pregou o Sermão do
Monte.
Retirado do livro Contracultura
Cristã, de John Stott
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