Caminhando
pelo cárcere da liberdade
Ora, o Senhor é o
Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
(2 Coríntios 3:17)
“Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós”.
O clamor pela liberdade não é de agora, mas desde que o mundo é mundo. Na idade
da pedra, a descoberta do fogo foi o ponto de partida para nos conhecermos
escravos das próprias invenções, embora tais tecnologias, ao longo do tempo foi
provando que estamos num cárcere e não livres, uma vez que a cada inovação
descobria-se que não se podia mais voltar atrás, então o penhor da liberdade, o
ir e vir, manquejou, mesmo na propalada alegação de que o avanço nos tornava fortes,
melhores e conquistadores sem observar que pouco a pouco a grade da prisão se
fechava.
Pela Bíblia sabemos que a prisão se
fechou antes mesmo das descobertas. O desejo em conhecer o bem e o mal foi o
primeiro passo para a armadilha da liberdade. Armadilha? Sim, pois ninguém pode
ser livre sozinho. A aventura da liberdade autônoma levou o primeiro casal
humano ao cárcere da alma, prisão da qual nem a lei, nem os homens, nem o
orgulho das descobertas, nem as lágrimas do remorso, nem a mais bela tentativa
de fuga ou viagem para dentro de si mesmo conseguiu libertá-lo. Por isso o
clamor do poeta por liberdade, “abra as asas sobre nós”, nos ampare, nos
socorra, nos faça voar por cima dos tantos “muros” que foram erguidos, ecoa com
um tom retumbante.
Pensar em liberdade pode ser um passo
à prisão. E ser livre nunca foi objeto barato, muitos perderam a cabeça, a voz,
os sonhos, as ambições, as posições, o conforto para abraçar-se a ela. Encontrar
a liberdade significa se deparar com a verdade, não a nossa, cheia de achismos,
mas aquela verdade que reside em nós e que a evitamos o tempo todo, posto que
ela revela nossa verdadeira cara, retira a máscara e se recusa vestir a
fantasia, se o objetivo for ser livre. E se esse for o objetivo, então
"condenados estamos". Assim, não encontraremos nenhuma mão amiga para
nos vestir ou alimentar nosso ego, mas pela liberdade, nossa própria
consciência será um juiz implacável da qual não poderemos suportar ao se olhar
no espelho. Fugir com a bandeira hasteada é mais cômodo, a fantasia da nossa liberdade
cai bem muitas vezes, pois retirá-la poderá ser um calo no nosso sapato e só
quem sente a dor é quem calça.
É por isso que Jesus foi tão
contundente sobre a equação da liberdade, não como teoria, mas como prática,
único meio de acessá-la. Nele reside o caminho para a liberdade, visto que,
como Ele é Onisciente, sabe todas as coisas, não temos como mentir, Jesus nos
conhece por dentro e por fora. Então, acessar a liberdade significa se despir
diante daquele que tudo sabe. Significa conhecer a verdade e não encontrá-la
como se estivéssemos diante de uma equação; não existe equação nem para
verdade, nem liberdade, só no caminho e na vida é possível acessá-la. Só
podemos chegar à verdade e liberdade se a Cristo primeiro conhecermos. Assim:
"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
Nesse caso, o grande problema da
liberdade é se auto conhecer. Foi Paulo quem disse: “Mas, se nós nos examinássemos a nós mesmos, não receberíamos juízo.”
(1 Coríntios 11:31), aliás, a dor e o prazer reside na liberdade, mas poucas
pessoas estão dispostas a acessá-la, logo muitos fogem e olham no espelho sem
encarar a si mesmo, preferem usar uma roupa que não lhe cabe, interpretar um
personagem que vai representar o tempo todo, que vai arrotar ares de liberdade
quando esta nunca existiu, apenas para circular tranquilo no meio santo, embora
pelos frutos doentes encobertos de folhas vistosas, todos possam parabenizá-lo
e o tal com o ego cheio possa bater no
peito: eu venci, quando na verdade somente as lágrimas quentes na solidão do
quarto são capazes de denunciar que o avanço espiritual ainda é uma farsa e que
esse avanço foi algo forçado, conquistado com o próprio esforço, interpretado
para satisfazer a média comunitária, mesmo que estampe uma nova realidade de si
mesmo.
Não se choque com a realidade de si
mesmo, isso é o primeiro passo rumo à liberdade. Então, que devo fazer para ser salvo? "Crer no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa (Atos
16.30,31). Parece uma equação simples, mas na verdade revela um resultado
contundente: regeneração sem conversão é a prisão mais confortável que alguém
já se instalou e essa falsa liberdade é
tão sagaz que mesmo encarcerado o homem é capaz de mentir para si mesmo, é
capaz de, tendo sede, recusar a Água da vida; (João 4.) tendo fome rejeitar o
pão do céu para desejar as bolotas que os porcos comem. (Lucas 15.16)
Crer em Jesus é a única porta para a
verdadeira liberdade, mas também pode ser a chave para uma outra prisão. Até
por que encarcerado e iludido pela liberdade
autônoma, desde o primeiro casal, o homem faz uma viagem na história em
busca do maior prêmio da sua alma, sem saber que tal prêmio não reluz como
ouro, nem tem um bom gosto, ao contrário do que muita gente pensa, a libertação
da alma é uma cocada de sal, ninguém quer, por que queima a língua, maior canal
de comunicação do pensamento e do coração. O mundo é doce, as amizades são
doces, portanto, oferecer sal é andar na contramão da liberdade, é enfurecer o
carcereiro, fazendo com que ele não tenha misericórdia e aqueça ainda mais a fornalha para jogá-lo. Por esse
motivo, o caminho é duro, longo, requer disciplina de si mesmo, requer jogar
fora o medo de assumir quem somos, (pecadores), requer humilhação da velha
carne e gritos e clamores a Cristo daquilo que gostaríamos de ser, mesmo sabendo
que sozinho não conseguiremos.
Pregar o Evangelho às almas perdidas
é urgente, sejam elas de longe ou de perto, porém o que dizer das almas que
arrastadas pela rede de pesca, mas que pularam sozinhas rumo à liberdade e na
verdade voltaram ao mar com arranhões na alma ou mesmo saltaram da rede dentro
do barco antes do pescador pegá-las e tratá-las e se saltaram com todo ímpeto
para dentro do barco ficaram com hematomas no coração e até hoje não se
perdoam, são amargas, um poço de azedumes, estão podres por dentro, embora
cobertas pelas escamas do interpretar no meio comunitário, brilham sem
autenticidade, não perdoam nunca, são ambiciosas, egoístas e seus frutos, por
mais esforço que se faça são raquíticos. Existem muitas almas assim nos templos
da vida, tentaram se regenerar sozinhas, por mero esforço próprio, hastearam
uma suposta liberdade, mas na verdade nunca viram a luz nem são luz, continuam
no cárcere da liberdade.
Observe, o homem ao nascer já está
condenado à prisão, ao crescer condenado a ser livre, porque descobrirá que
nada nessa vida pode lhe dar a chave para abrir a porta da masmorra. Se ele
pudesse escutar o grito da sua alma, seria um grande passo, todavia seus
ouvidos estão moucos, seus olhos cegos, então tudo que lhe dão como proposta da
liberdade o alimenta e o ilude, isto é, o homem vira refém de uma quadrilha: o
pecado, o desejo, a mentira e o orgulho. Diante dela, fica embriagado, não
resiste ao vinho do porto falso, sendo falso, tal bebida pega rápido e fica
ainda mais fácil começar a dizer “coisa com coisa” e acreditar na sua própria
verdade, sendo então presa fácil para o diabo devorar como um leão. Por isso,
vem as quedas, não só aquelas explícitas onde o coro dos religiosos e
encarcerados ecoam aos quatro ventos, mas também as quedas implícitas que só
Jesus vê: um olhar cheio de lascívia bem discreto e aquele pensamento
pecaminoso que viajou minutos e horas ainda que sentado(a) na igreja num momento
ímpar de adoração onde os olhos carnais alheios não perceberam, onde se
respirou tranquilo por saber que ninguém percebeu tal atitude, nem foi
apanhando pelos hackeres modernos naquele site indecente, mas foi posto na
balança fiel pelos olhos que são como chama de fogo.
A liberdade tem um preço, mas não é
uma conquista. Ninguém pode conquistá-la, não é prêmio, nem trofeu. Todo
postulante à liberdade precisa se despir de todas convicções perfumadas e
elegantes. O preço da liberdade, se a queremos, saiba que não somos nós que
pagamos; o preço já foi pago no calvário por Jesus. Tem muita gente querendo
comprá-la e se frustra com a doce mentira do ato de ser livre. Ela é um preço
pelo simples fato de que a vitória das lutas interiores não se dá com armas
humanas e sim espirituais (Efésios 6.10-18) e se são espirituais é necessário
carregar a própria cruz, negar a si mesmo e isto é uma tarefa muito árdua para
uma geração que acredita no valor da liberdade como sendo um levantar de mãos,
cantar hinos gospel bem entoados, produzir choro de ocasião, gritar
glóooooooooooooooooooooooooriaaaaaaaaa e aleluiaaaaaaaaaaaaaaaaaa como fórmula
pronta e acabada para se conquistar a liberdade da alma. Afinal, o preço da
liberdade é como um perfume caro, que ninguém ousaria derramar, mas sem
derramá-lo, sem quebrar o vaso de alabastro, ou seja, sem se derramar por
inteiro, sem ser honesto, sincero, ainda que custe cargo, posição e rejeição, o
homem continuará no cárcere, acreditando que está na suíte presidencial.
Nós somos templos e morada do Espírito Santo e Ele, que habita em nós
tem ciúmes. (I Coríntios 3.16; Tiago 4.5) Se somos templos dele, somos livres,
se somos um engano revestidos de folhas, mas sem os frutos, Ele nunca esteve e
a grade continua fechada e o pior de tudo, muitos ouvirão a voz de Jesus
dizendo: “nunca os conheci, apartai-vos de mim” (Mateus 7.23). A esperança da
liberdade reside em Crer, não é acreditar, mas entregar-se, jogar-se,
humilhar-se deixando O Espírito Santo fazer o que quiser com a nossa casa e
fazendo Ele tudo, nos dará a chave e não só isso, nos ensinará a girar a chave,
a abrir a porta e deixar lá dentro da prisão suja do passado o nosso velho
homem morto, quando cá fora, livres e vivos para uma nova vida frutífera e nítida
aos olhos, com o sabor salgado, e equilibrado onde seu paladar já não mais se
engana, onde sua alma já livre, caminha perseguida por amor a Cristo, trabalha
para Jesus aparecer e nós diminuirmos, nos dá condições e ferramentas para dia
a dia vencermos a carne e amar segundo Paulo, esperando, suportando, crendo em
nome de Jesus.
Até
à próxima!
André
Silva.