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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fé cega, foice afiada



Em momento algum da história humana, nunca se registrou uma procura tão acentuada por Deus quanto nesse último século. Nunca houve outro período em que o nome Jesus rendesse tanto comentário e busca, mesmo que desesperada. Nunca se viu tanta gente em diversos seguimentos religiosos exercitar a fé, mesmo que cega. Então, o que faz o nome de Deus render tanta procura nesses últimos dias? Por que mesmo cheias de fé, as pessoas se encontram tão vazias e sem Deus?

Não precisa ir muito longe, basta dar um clique na televisão ou escutar o clamor do vizinho, ou mesmo, nos auto observar nos espelhos do dia a dia o quanto Deus está presente em nossas vidas, afinal: “Vinde a mim todos que estais cansados e Eu vos aliviarei”. E é justamente ai, neste alívio, onde se exercita a fé, ainda que cega e distorcida; é na nossa sede que vamos buscar água em poços desconhecidos e profundos sem encontrar água potável e doce, pois quando a sede é grande toda água é boa, na fome as bolotas que os porcos comiam pareciam caviar para o filho pródigo. E nessa direção, muitos vão exercitando uma fé morta por não encontrar o verdadeiro caminho.

Falar da fé tem sido lucro certo, nunca se falou tanto sobre fé. Os teólogos lançam livros a cada semana, a mídia tem escancarado o assunto de forma insigne, a música tem arrecadado milhões em composições enfáticas feitas quase que exclusivamente em nome da fé, de uma vitória que vai chegar na sua vida custe o que custar, até a filosofia, que de tão pouco consultada, hoje é uma das cadeiras principais nos cursos de ciências humanas, tendo um papel elementar na busca da fé ou na sua negação; tudo isto porque, a fé virou comércio e tem manobrado muitos fervorosos num “mito da caverna de Platão” que se repete a cada dia. Eis um motivo forte para a filosofia dar um tapa sem mão naqueles sedentos por Jesus, sendo assim, “conhecereis a árvore pelos seus frutos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

Pelos seus frutos, muitos têm exercido uma fé cega, capaz de superlotar igrejas, andarem de joelhos nas ruas pagando promessas, ficarem em casa sentado esperando a morte chegar, levantarem bandeiras sociais em nome da paz e do próximo, executarem o nome de Jesus nas tantas letras que o anunciam de forma distorcida e até mesmo se vestirem de nova criatura, mas trocando de roupa para acompanhar o ritmo e o compasso do mundo que de tão sedento por Cristo, continua bebendo na fonte errada.

Nessa cegueira espiritual do mundo moderno, as igrejas estão lotadas de pessoas com braços levantados para o alto, clamando por um Deus que eles não conhecem na íntegra, só de nome. Quando seus frutos têm negado a eficácia dessa fé, por não fazerem o que deveria ser feito, mas apenas o que mandam: “vista branco, azul, amarelo, fique de joelhos, ande um quilômetro, ponha um copo d’água em cima do rádio, traga a carteira de trabalho para a porta se abrir, faça o despacho na encruzilhada, suba as escadarias de joelho, acenda velas, jogue flores no mar, saia com o pé direito, não passe debaixo de escada; enfim, faça tudo, menos tentar conhecer a verdade e a Deus como Ele é: simples, ordeiro, amoroso como uma galinha que acolhe todos os seus pintinhos debaixo de suas asas sem discriminação; assim é o nosso Deus que não quer sacrifício de ninguém, nem faz acepção de pessoas, que está de braços abertos para aqueles que abrem a porta do coração para Ele. Por outro lado, o mito da caverna é gritante, quando alguém manobra as réstias na parede da caverna com o ventrículo nos deixando abobalhados com a cena, é assim que estamos: abobalhados, sem poder nos mexer, sem forças para questionar, olhar para trás e observar o que estamos fazendo e quem está nos iludindo até porque, o amor que Deus tem por cada um de nós é muito grande, por isso Ele nos adverte: “Errais por não conhecer as escrituras nem o poder de Deus, toda árvore que não der um bom fruto, será cortada e jogada no fogo”, porque a foice está amolada e em breve a colheita será feita.

Não quero terminar este texto o condenando ao fogo do inferno, ao contrário, quero terminá-lo condenando você de você mesmo. Diagnosticando sua fé que anda míope e precisa ser operada para que veja a luz dentro dessa caverna que você se alojou ao longo do tempo. Essa caverna de tantos cânticos, preces e louvores de um Deus vivo que ainda se encontra morto por não ter conseguido tirá-lo desse buraco negro de tantas verdades hipócritas que o faz sentir mais sede da verdade. A sua fome de leitura em torno da fé, seus ouvidos aguçados têm provado a sua sede por um Deus que você não descobriu ainda, mas sabe que Ele existe ai bem dentro de você, embora em uma penumbra ao se movimentar nas paredes da caverna do mito platoniano.

Sede, exercitada numa fé cega que teima andar no caminho estreito e levar sua cruz dia após dia, mas que quer as facilidades de um evangelho próspero e cheio de bênçãos. Fé cega, por louvar tanto o nome de Deus nas igrejas e nas praças e deixá-lo sempre em último lugar em sua lista de prioridades. Fé cega, de um povo que diz tanto amar a Deus e tê-lo no coração, mas que O nega em suas atitudes e falta de amor, por querer seguir seus próprios caminhos menos o caminho descrito na bíblia pelo seu Criador, em palavras que se cumpriram e vem se cumprindo ditas pela boca do próprio Cristo “Tua palavra é a verdade”, mas negada por muitos que dizem não serem suficientes, quando buscam outras. Fé cega, quando Deus não é suficiente para curar suas mazelas e trazer paz, procurando outros meios e pessoas para darem um melhor suporte para sua fé.

Foice amolada, que fará separação no dia da colheita e esbofeteará muitos daqueles que usam sua própria verdade sem observar as verdades de Deus, por continuar a questionar igual a Pilatos: “ o que é a verdade?” , mas por perceber igual ao centurião romano, mesmo que tarde diante dos fatos: “verdadeiramente este homem era o filho de Deus”.

Verdadeiramente Jesus está voltando pelos sinais que se cumprem. Verdadeiramente amar a Deus sem segui-lo pelo caminho proposto por Ele faz de minha fé cega, ainda que eu não faça mal a ninguém. Verdadeiramente as vãs filosofias têm levado as pessoas a inverterem o caminho, procurando a felicidade dentro da caverna cujo mito alimenta a fome dos fervorosos e os afastam cada vez mais dos caminhos de Deus que mais parecem fardos pesados e difíceis de carregar. Verdadeiramente sua fé pode estar cega, se você não der meia volta e olhar por trás de você e deter esse alguém que manobra o ventrículo que o deixa preso às mensagens doces, mas que amargarão no final. Verdadeiramente a foice está amolada, mas pela grande misericórdia de um Deus verdadeiro e que o ama, que espera você produzir frutos bons e vindos apenas dEle, que é a videira verdadeira e quando o momento certo chegar ele executará sua justiça de amor, cortando e separando o joio do trigo; o trigo que conseguiu permanecer em pé, mesmo sendo sufocado pelo joio que insiste em distorcer e cegá-lo com medo de ser cortado e lançado fora.

Então, corte você de você, suas práticas de suas práticas, sua fé de sua fé, para quando o ceifeiro vir com sua foice afiada não o lance no fogo eterno com sua fé cega.


Até à próxima!

André Silva.


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