Apenas um Toque
Sempre reclamamos que a vida anda por demais agitada, o vaivém frenético das pessoas em busca de uma oportunidade, o relógio nos apressando e a buzina dos carros incomodando o nosso ouvir, já que o escutar perdeu seu espaço nas agendas da vida e a isso chamamos de modernismo. Há séculos o escutar, tocar, se emocionar, refletir e analisar esteve distanciado dos homens, tentamos colocar o tempo todo “remendo novo em pano velho”, sem entender que um simples olhar, um simples toque pode fazer toda diferença.
Os pescadores remando contra a maré econômica sem encontrar peixe, os cobradores de impostos ávidos no trapacear matemático de suas ganâncias, os mestres do saber tentando descobrir a raiz profunda das coisas sem a essência delas, o cotidiano se desfazendo nos pés cansados de quem procurou um pão e não o encontrou, até uma mulher da vida “sem vida” rouba a cena, mas é incompreendida pelo seco tesoureiro socialista, assim o mundo vai: desejoso por conquistas e destaques, ansioso por manter sua posição andando cegos em si mesmo e tentando se curar dos seus melodramas nos consultórios da vida.
É bem verdade que eram gente como a gente, nada há de extravagante neles que não haja em nós, de lá pra cá nada mudou, repetimos as mesmas mazelas com nome novo, talvez seja por essa razão que enfrentamos com mais facilidade os dramas da vida até que certo dia brota da raiz de Jessé, um homem que até hoje mudou o percurso do olhar, ouvir – escutar, analisar e principalmente tocar.
Infelizmente, nossa pressa desvirtuou a água da fonte, somos um tanto acelerados em falar, quando deveríamos permanecer em silêncio; somos forçados a olhar sem ver; somos forçados a dormir no ponto sem perceber os detalhes, detalhes que fazem a diferença.
Jesus alertou tudo isso, sua metodologia não passeou pelas bancas de Harvard, seus conceitos não foram extraídos de laboratórios nucleares, sua pesquisa de campo não foi densa, bastou apenas um olhar, o silêncio, uma palavra, um toque.
A sociedade moderna parece perdida mesmo em meio a um farto campo de pesquisa, análise laboratorial, idas e vindas a psicoterapeutas, mesmo num momento propício a novas descobertas, já fomos longe demais tentado descobrir vida em Marte e clonar a espécie humana, saltamos de alegria a cada tentativa de acabar com o câncer e a Aids, sim o homem deu um salto qualitativo em mudar os rumos da história e da pesquisa genética, mas ainda nos resta algo: preencher o nosso grande vazio.
Nessa direção, o que deixavam rabinos, sacerdotes, mestres e doutores da lei boquiabertos era a maneira como Jesus tratava tais temáticas.
Pescadores preocupados com as redes vazias, porém algo novo os direcionou para outras águas: Venham e os farei pescadores de homens. Um grito surdo ao longe dizia: Jesus filho de Davi tem misericórdia de mim, enquanto os homens recusaram o escutar, o Mestre o tocou com apenas uma frase: “O que queres que eu te faça? Ver! Então veja! Um simples garoto com apenas um pãozinho e três peixes ofertados no balaio fiz toda diferença quando Jesus os tocou e assim houve ensino e comida quando cada um precisaria retornar a suas casas.
O problema maior é que muitos até hoje buscam comida, a resolução dos seus problemas, a cura de suas enfermidades, um milagre sem descobrir como preencher o vazio que assola o ser. Isto se dá porque assim como os grandes cientistas correm por descobertas, correm os homens por qualquer coisa que sane seus problemas e não interessará se a água é turva, se a massa é levedada ou se há veneno na panela, então acabamos por nos debruçar no colo prostituto da pressa, então deveríamos parar, pensar e analisar o que estamos fazendo conosco e com o outro, quando um olhar, um palavra, um toque derrubariam todas as barreiras sócias em nossa volta nos tornando mais humano como Cristo foi.
Os monstros sociais estão ai devorando a juventude, dilacerando os lares, quebrando as moléculas do amor que ainda nos restam, as pessoas até tentam uma escapadela, acreditando que a religião seja uma saída, porém nunca se viu tantos religiosos doentes por dentro, mal humorados, ignorantes, sem afeição, sem amor ao próximo, eles acabam carregando sobre si tudo o que Jesus tanto criticou em sua época. Assim, se entregam os homens aos rituais sagrados, as normas, aos códigos de ética, a boa homilia, ao andar descalço imprimindo um rosto de piedade em cada esquina, se vestindo com s cores do “sagrado”, porém sem haver mudanças para dentro do ser e quanto mais o tempo passa vamos ficando vazios e sem coragem de olhar no espelho diário e despertar que precisamos ser tocados por Ele, o Salvador do mundo, Cristo Jesus.
Não entendemos ainda, esse discurso vazio, porém proferido por mais um nome da mídia não conseguirá preencher vazio de ninguém, não serão os tantos lançamentos de livros, DVDs e CDs em nome de Jesus que converterão homens velhos em homens novos, todo esse cardápio é antigo, capitalista e meritório e nos levam apenas a um círculo vicioso o qual andamos, andamos e andamos sem sair do lugar.
Então, porque será que o toque de Jesus faz tanta diferença?
Em primeiro lugar, Jesus preparava os homens para serem gente aqui, para lidar com esses problemas diários, Cristo nunca orou para sermos alienados no tempo e no espaço, nem orou para nos teletransportar dessa terra de caos, ao contrário, orou ao Pai para que nos livrasse do mal, principalmente do ardil do engano.
Já parou para pensar nas tantas pedras que Madalena iria receber dos rabinos e sacerdotes da lei? Às vezes, nós também agimos como eles. Já imaginou o tabu quebrado por Jesus em cear com pecadores? Quem hoje ousa tal coisa? Ao contrário achamos que somente os bem sucedidos podem servir a Deus. Por outro lado, a justificativa de alguns é a contaminação, contudo, se os médicos pensassem assim como iriam socorrer os doentes? Ai está, muitos até doam pão, fazem grandes campanhas, mas nem só de pão vive o homem, precisamos mesmo é de um toque, uma palavra que sacie nossa falta de transcendência.
Olhem pra Jesus e vejam como ele respondia as questões.
Olhem pra Jesus e vejam como ele se comportava diante da sociedade.
Olhem pra Jesus e vejam como ele dava atenção especial do mendigo faminto ao sacerdote mais rico e doutor da lei.
Olhem pra Jesus e vejam sua pedagogia, a simplicidade de seu ensino provou que não precisa muito para se chegar lá, fora disso é só balela, conversa fiada, jargão, clichê e muita, muita, muita tolice.
Olhem pra Jesus e vejam que em momento algum ele perdeu tempo com tanta tradição, ritual humano, o quanto Cristo foi tão simples, tão prático: pecado é pecado, não há meio termo.
Olhem pra Jesus e vejam o quanto o silêncio falava muitas vezes mais alto, até diante das ofensas não se defendeu, provando que as pessoas já estão cansadas de tanta retórica, o que se precisa na verdade é retirar a máscara a qual teimamos em usar para fingir o que não somos. Usamos a hipocrisia na corda bamba diária: uma hora somos do time da graça, de repente julgamos severamente com a lei acreditando piamente que Jesus pensa assim.
Coitados de nós!
Quanto mais se busca um reino aqui, as 30 moedas de prata tilintam no cofre “Escariotes” de nossa consciência e assim sem perceber acabamos por vender Cristo por tão pouco.
Pense bem! Leia as Escrituras, indague e veja como Jesus agia, está lá, está claro é só ler, crer e praticar.
Apenas um toque, apenas!
Até à próxima”
André Silva