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segunda-feira, 26 de novembro de 2012


Os profetas veterotestamentários são percursores dos teólogos da libertação?

Vocês pisam no pobre e o forçam a dar-lhes o trigo. Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra, nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do seu vinho. [Amós 5.11]

Por Gutierres Fernandes Siqueira

A pergunta acima merece um artigo acadêmico com várias análises exegéticas dos textos bíblicos, mas a proposta deste artigo é mais modesta. Agora, acho que a pergunta merece ser respondida, pois já vi várias vezes teólogos da libertação se colocando como herdeiros de uma tradição judaica de protesto. Será?

Quais são as diferenças entre os teólogos da libertação hodiernos e os profetas do passado?

1. Os profetas não aderiam a um sistema de governo. Eram a consciência crítica de qualquer governo opressor. 

É inegável que os profetas no Antigo Testamento eram críticos do sistema religioso, político e social de Israel. Eles não eram adeptos do status quo e muitos tiveram vários problemas com os nativos. Mas quem disse que os teólogos da libertação contemporâneos estão fora do sistema? Ora, em países como o Paraguai, Bolívia, Nicarágua, Colômbia e até no Brasil você encontra muitos desses teólogos como parte do governo central. Hoje, eles são a “nova elite”. Que eu saiba os profetas do passado não aderiram a nenhum governo, mesmo que esse governo fosse “progressista”. Os teólogos de hoje não veem a hora de uma “boquinha” do “governo popular”.

2. Os profetas criticavam os “altos impostos” como opressores. Os teólogos da libertação adoram impostos, mesmo que não admitam. 

Os teólogos da libertação não criticam os impostos porque são dependentes de um Estado inchado. O Leviatã precisa de muitos tributos para empregar diversos companheiros e sustentar políticas assistencialistas. Além disso, como acreditam no Capitalismo de Estado a dependência de estatais é forte e, claro, necessidade de uma fonte de recursos. Amós ficaria escandalizado com a carga tributária do nosso “governo progressista”. E por muito menos Israel queria rebelar-se de Roma.

3. Os teólogos da libertação instrumentalizam a ideia de “tuteladores” do povo. Os profetas denunciavam o pecado do povo. 

Com os profetas não havia romantização do povo. Aliás, a palavra “povo” é uma abstração autoritária, pois os maiores demagogos instrumentalizam tal expressão a fim de conquistar poder. Os profetas não tinham medo dos governantes e nem dos governados. Se havia pecado moral ou social eles eram contra e não importava que os praticava.

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