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quinta-feira, 26 de abril de 2007

O Espelho Profundo de Mim

Uma grande verdade, às vezes, deixa de ser verdade dependendo de quem fala.
Estou aqui mais uma vez a dialogar com os leitores, não mais para ficar na posição de crítico e observador, mas convido a todos para fazermos uma leitura de nós mesmos. Em outras ocasiões já falei da necessidade de conversarmos conosco, de enfrentarmos nossa imagem ante o espelho frio do quarto chamado solidão, e isto não me assombra, vejo com tranqüilidade, pois sempre deveríamos estar nos auto - avaliando para melhor construir nossa trajetória como construtores de nossa história e não manipulados por ela, nos textos evidencio a nossa responsabilidade aqui e agora enquanto pessoas e pessoas cristãs que dizemos ser e muitas vezes não somos e por que não somos? Olhe para o seu espelho profundo e ele o dirá.
Muitas vezes saímos apressados demais e nos esquecemos de demorar mais um pouco diante do espelho e ao sair nos esquecemos de nos auto - avaliar, de questionar como será o nosso dia, de que forma a sola de nossos pés pisará as calçadas da vida, esquecemos de observar nesse espelho como vamos conduzir nossas palavras que de tão apressadas, dão decretos de juiz numa função que nunca poderá ser nossa, infelizmente só não esquecemos de parar para olhar a nossa vaidade física, de demorar diante do espelho para agradar a sociedade, para esperar os aplausos da platéia massageando nosso ego.
É paradoxal dizer que precisamos parar mais diante do espelho, quando somos forçados a viver praticamente diante dele, estamos detidos nos espelhos físicos igual a Nicodemos, doutor da lei, reputação inquestionável, ele é a imagem que qualquer cristão gostaria de ter diante de Deus, santo, puro, vivia à risca as regras impostas pela placa religiosa e é dessa forma que estamos conduzindo nossa trajetória, doutores da lei, santos e inquestionáveis, fiéis às regras, cheios de fé, vestidos como santos, mas muito pobre em amor e por tabela medíocre em perdão.
Nessa direção, precisamos nos olhar nos espelhos interiores e matar essa praga que se alojava em nós, se nascermos de novo, certamente não necessitaremos de regras, nem de uma roupagem exterior especial para sermos servos, a não ser, a roupa interior, estamos obrigatoriamente bem vestidos por fora, parabéns, mas nu por dentro diante de Deus, começamos a pensar que tudo está bom assim, que já somos, quando ainda precisamos ser, nos fizeram acreditar que basta seguir as regras e tudo estará bem, basta obedecer aos comandos como se fóssemos máquinas e assim será melhor e se alguém não estiver igual a nós, teremos que excluí-la ou induzi-la a vestir nossa roupa como se Deus precisasse de roupa exterior para representá-lo, mas por favor observe como eu, não quero instruir meus leitores a serem subversivos e contra lei, ao contrário, sou consciente de que tenho que cumprir a lei, pois o meu mestre me deu esse exemplo, mas também não se esqueça de que a lei é um comando social, um paradigma externo e de nada adiantará vestir-se de santidade, de nada adiantará apenas sermos seguidores de regras, de nada adiantará alistar-se na placas se não tivermos nascido de novo.
Desculpe pela dureza de minha sinceridade, não quero induzi-lo a pensar como eu, quero nos texto colocar diante dos seus olhos um espelho profundo de nós mesmos. Até quando vamos nos enganar? Até quando vamos sair perfumados e bonitos ao templo e dizer: a verdade é esta, quando a verdade não é prática diária do nosso dia a dia.
Estamos representando para quem? Estamos vestidos para quem? Quem somos diante do espelho?
A reposta é óbvia: é crescente o número de divórcio de casais que viviam embalados pelos seus romances, é crescente o número de suicídio de pessoas tão cheias de vida em nosso redor, é crescente o número de murmurações, quando o dia nasce exclusivamente como um presente para nós, porque os nossos desejos frustrados nos fazem resmungar contra o Deus da vida, é crescente a mudança de valores, a verdade não é mais regra é exceção, maquiá-la é a moda do momento, os interesses sociais e econômicos reluz latentemente nos rostos de muitos, é crescente o olhar malicioso, é crescente o tédio, são crescentes os casamentos de conveniência, porque as carnes não são mais uma, mas três, quatro ou mesmo nunca foram uma em si mesma, apenas uma química de hormônios que depois do desejo de posse virou em rotina fria em uma máscara deprimente, é crescente a depressão de pessoas bem vestidas para cumprir regras, sem o óleo que tira o rugir das engrenagens, é crescente o número de fiéis, decrescente o número de nascidos do Espírito, são crescentes os cumpridores de comandos, decrescentes os trabalhadores na vinha do Senhor, crescente os pedido de bênçãos, decrescente a busca pelo abençoador.
É por isso que precisamos do espelho profundo de nós mesmos, precisamos tirar essa roupa imposta pela nossa religiosidade sem novo nascimento, roupa que reluz diante dos espelhos da vida, mas que abafa a Graça, tiremos nós essa maquiagem diária, esse mesmo sorriso mascarado, porque Aquele que sonda os corações quer mais de mim e de você; então vamos “ser - indo”: agentes transformadores na história e não manipuláveis, “ser - vindo”: na perspectiva de que somos apenas pó, tudo é Dele, é o mestre Jesus quem quer e faz; vamos “indo -ser”: pois ter luz, não é ser luz e a partir do momento que dermos meia volta e nos tornarmos como crianças inocentes, ai sim, entraremos no reino celestial, “vamos - indo”, mesmo sem ter nada aqui, mas felizes por que ganhamos tudo, tiremos as correntes das mãos, se Jesus nos libertou verdadeiramente somos livres.
Somos livres para vencer o pecado, livres para amar mais e perdoar ainda mais, livres para dar frutos, livres para sermos nós mesmos, pois já não valemos nada aqui, somos odiados, peregrinos, livres para plantar sementes sem precisar fazer a colheita, deixemos a foice e o machado para o dono da colheita e das árvores sem frutos, apenas peguemos nas mãos e nas redes e lancemos ao mar bravio, lancemos e pesquemos, mas deixemos que o dono da pesca trate os peixes por dentro, caso contrário, o templo voltará a ser um mercado público de tanta gente que não se olha por dentro, mas se vê por fora, precisamos ser livres e não escravos da liberdade, porque é no meu espelho que vou confessar quem sou, que vou mentalmente dizer, não é assim, é no espelho que vou olhar para dentro e dar um salto para fora.
Ficará dentro os estilhaços de espelhos exteriores, quando não dermos meia volta, ficaremos livres dos espelhos quando nossas vidas reluzirem sem ele, quando o nosso exterior não for mais regra, só exceção, ficaremos livres quando entregarmos nosso ser ao Construtor da Vida, Ele nos dirá, pela sua Palavra, qual o caminho, qual o espelho devemos parar para nos refletir, é com a vida dEle, com o amor dEle, com a prática dEle, com a maneira de olhar dEle. Enquanto a nossa, olhemos no espelho profundo de nós, pois é lá que nos encontraremos conosco da cara suja, mas com a opção de voltar a trás e nascer de novo.

Até à próxima!
André Silva.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Em que cultura caminham
seus pés?


Uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro (O braço direito sem fins lucrativos do IBOPE) mostra que 76% dos alfabetizados no Brasil não conseguem compreender textos mais longos do que uma simples nota de jornal, embora esse fato tenha raízes históricas.
Não há dúvida de que, no Brasil, o início da martirização cultural de nosso povo chegou com a esquadra de Cabral e mais tarde o produto cultural e exportável mudou o cenário dessa terra onde “tudo que se planta, dá”.
O que seria cultura afinal de contas? Antes de qualquer coisa, é necessário questionar se o nosso país está livre e se a população participa de fato de uma sociedade democrática. O Brasil é um país democrático?
As respostas às perguntas acima não são animadoras, a maior parte da população é marginalizada e, por esta perspectiva, é possível traçar, por si só, o perfil da cultura brasileira; um povo ainda submisso, não mais à cruz portuguesa, mas à cultura televisiva, embora a Antropofagia tentasse, nos meados do século XX, retornar ao primitivismo e devorar a cultura de importação trazida da Europa, transformando o produto importado em exportável, fazendo os valores da terra gritarem por justiça cultural.
Nessa direção, da mesma forma que os jesuítas tentaram traçar a educação dos índios entre os séculos XV e XVI, nesses últimos dias, a classe dominante tem estabelecido um projeto de educação e cultura para os nossos filhos, por sua vez, os pais transferiram a tarefa dos primeiros passos para escola tornando-a detentora dos caminhos da vida devido à ansiedade por um padrão de vida mais elevado, acreditando que o padrão de vida, por si só, seja uma congruência entre a ética, bem - estar, educação e religiosidade e por esse motivo a escola atual tem em suas mãos novas incumbências.
É ai que mora o perigo, no passado os pais eram responsáveis em guiar a educação dos filhos, hoje quem dita a regra de como eles devem se vestir e se comportar é a mídia. Então, querido pai, o que seus filhos estão aprendendo? Qual a herança que eles levarão aos seus futuros netos, depois de alimentar-se de tanto lixo cultural, em qual cultura caminham os seus pés?
De uma coisa é certa, nunca se viu tantas cenas de violência, incentivo à bebida alcoólica, ao fumo e ao sexo livre nos comerciais, filmes, novelas e programas de entretenimento como hoje, levaram o corpo feminino à banalização, o nu de tão mostrado ficou sem graça, as cores passaram a explodir em bombas, tiros e muita morte nos desenhos infantis, por isso as cidades estão cada vez mais selvagens, a educação caiu a níveis subterrâneos, as perspectivas de emprego estão ficando quase nulas para uma boa parcela da população que se farta em “balançar a bundinha”, malhar os músculos com anabolizantes e entrarem numa pré-depressão por não aceitar o corpo que a mídia diz não ser belo.
Enfim, mudaram as crianças, os adultos, os jovens, tudo mudou e cada qual tem sua parcela de culpa.
Essas e outras mensagens estão embutidas na marginalização da cultura, quando no passado, as canções nos transportavam a mundos inimagináveis de poesia, enquanto hoje, é muito batido, muito som e nenhuma letra, as crianças estão perdendo a pureza e obrigadas a serem um adulto precoce, as famílias perderam a coesão e a coerência, não se reúnem mais à mesa, não partilham mais de um bom diálogo, porque relaxaram na sua missão de educar, deixamos os valores morais e divinos serem trocados pela falsa filosofia do Carpe Diem sem rever as conseqüências do amanhã, ficamos preocupados em aumentar o padrão de vida e esquecemos nossos filhos diante do vídeo - game, Internet e novelas. Portanto, se as crianças aprendem o que vêem, irão aprender tudo isto sentadinhas no sofá, os nossos filhos estão sendo os alunos da mídia nas aulas de ética, moral, filosofia e psicologia, enquanto nós adultos deveríamos ser os avaliadores dessas aulas, mas ficamos alheios colocando a culpa no sistema sem entender que devemos ser leitores críticos para não sermos vítimas: Gravidez precoce, drogas, delinqüência infanto - juvenil, desemprego, escassez dos valores éticos e familiares, banalização da cultura.
Se voltarmos ao passado, os jovens eram politizados em relação à situação do país, iam às ruas protestar, hoje vão às ruas sem saber onde estão andando e em que caminho está traçado o seu destino.
Por outro lado, é decepcionante ver que a escola também começou a perder a rédea, galgando por pedagogias transitórias de belas nomenclaturas com seus remédios em livros maravilhosos os quais não conseguem explicar a ineficácia do ensino nem mesmo sarar suas feridas, quando antes era a tábua de salvação, o futuro para mentes brilhantes, homens e mulheres responsáveis, hoje está se tornando um estacionamento enfileirado de alunos que não sabem onde estacionar seus objetivos, pois o investimento do governo em relação à educação mais parece um saco furado, enquanto o seguimento privado entrou para interferir, gerando programas educacionais de aceleração e alfabetização por entender que uma juventude não leitora assusta e põe medo. Com isso, os jovens sem a oportunidade de leitura e emprego estão gritando alto demais, por outro lado a hipócrita sociedade excludente está de mãos atadas pedindo o fim da violência e o efeito e a causa de tudo é isto é óbvia: criaram um monstro e agora estamos com medo dele.
O que está acontecendo? Em que caminho trafega a nossa cultura, os nossos valores, a ética, os bons costumes e a educação?
Discutir alternativas será o seu papel, mas retornar a fazer cada um a sua parte é o nosso dever, para que mais tarde não comamos esse pão que nós mesmos estamos amassando.

Até à próxima!
André Silva

terça-feira, 17 de abril de 2007

Entre o Tempo e a Intimidade
Quanto tempo leva um capítulo de uma novela? Quanto tempo leva uma partida de futebol? Quanto tempo leva para se fazer as unhas na manicura? Quanto tempo leva ao se conversar no bate-papo da Internet? Quanto tempo leva um casal aos beijos no terraço? Quanto tempo levamos trabalhando ao dia? Mas, quanto tempo você gasta com Deus?
A vida eterna resume-se unicamente em conhecer ao Deus verdadeiro, mas conhecer alguém requer tempo, busca, dedicação, amor, cumplicidade, embora nessa sociedade moderna que nos lança contra o relógio, Jesus encontra-se cada vez mais afastado das pessoas que alegam o tempo como desculpa por não conseguirem mais ficar perto dEle; ainda que muitos digam conhecer a Deus e amá-lo, se contradizem quando estes não têm intimidade com o Pai. Afinal, precisa-se passar no vestibular, conseguir o emprego, encontrar um romance, divertir-se, cuidar da beleza, precisa-se ganhar o beijo da semana, mas enquanto buscar um tempo para ficar íntimo de Deus, lança-se essa idéia no mar do esquecimento.
Nessa sociedade, a única coisa flagrante é que, a cada dia, as pessoas ficaram ansiosas, depressivas e insatisfeitas e por mais que as igrejas estejam lotadas, continuam vazias espiritualmente, os servos do futuro-presente escancaram sua sede pelas bênçãos e milagres, enquanto a corrida desenfreada pelos nossos ideais nos faz esquecer da amizade que deveríamos cultivar com Deus, mas sempre deixamos pra depois. (João 17.3 / Mateus 15.8)
Nunca na história cristã, os servos do Senhor os deixou tanto em último plano como hoje, preferem antes, procurar pelo curandeiro, pelo signo do zodíaco, preferem entregar-se aos prazeres e alegrar-se madrugada a dentro nas festas, preferem primeiro buscar o espírito de pessoas que da cova nunca pôde sair, prefere-se procurar, primeiro, pela sorte nas loterias da vida, se tem tempo para tudo, enquanto para o Deus que nos ama, apenas uma migalha de tempo mal administrado, quando antes, bastava saber que Jesus estava em algum lugar, rompia-se a multidão, mesmo sem forças, para tocar na orla do seu vestido, hoje Jesus é o último a ser procurado. Então, o que impede você de ser íntimo de Deus? (João 5.39)
Para que você jamais se esqueça, ser íntimo de Deus equivale simplesmente ser ressuscitado depois de quatro dias no cemitério, equivale sair ileso da cova cheia de leões, sair sem cheiro de fumaça da fornalha de fogo, ser transladado ao céu numa carruagem, dialogar abertamente com Jeová em pessoa, ganhar um filho na esterilidade e velhice, ganhar quinze anos a mais de vida, ser íntimo de Deus equivale saber as coisas grandes e ocultas, é vencer o medo diante de um grande exército, enfim existem mais vantagens de ser íntimo de Deus do que sempre deixá-lo para uma hora qualquer. (João 6.35 / João 15.5)
Mas será que o tempo é mesmo culpado por nossa negligente amizade com o Pai? Por que na entrada do ano, fazemos tantos planos? Por que corremos ansiosamente por nossos objetivos? Se Deus já parou o Sol quando um servo íntimo dEle clamou,(Josué 10.13) se Deus já fez descer fogo do céu, já fez a chuva estancar e depois cair, (I Reis 18) se Ele tem o controle de nossas vidas nas mãos, então, o que nos faz fugir tanto dos braços do Pai? O que nos faz gastar tempo com tanta coisa e não sentir prazer de gastar tempo com Deus?
Deus está em todo lugar, todo mundo tenta buscá-lo: negros, brancos, amarelos, pobres, ricos, mas Deus só busca uma classe de pessoas: os verdadeiros adoradores, os íntimos. (João 4.23 / Apocalipse 3.18 / Filipenses 4.8,9 / 1º João 2.17 / 1º Timóteo 4.16)
Enquanto você perde tempo por uma resposta, corra já e jogue-se nos braços do Pai, comece agora gastando tempo exclusivo com Ele e no caminho dEle e as respostas para todas as suas dúvidas e desejos, Jesus te dirá no caminho da intimidade, quebrando todas as tuas interrogações e te privilegiando, mesmo com barreiras no caminho, mesmo em tempos difíceis, por ser íntimo dEle.

Até à próxima!
André Silva

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Quando a Razão e a Emoção
se abraçam

Entre tantas recordações que a vida nos oferece, entre tantas palavras inseridas nos discursos alheios ao longo do tempo, nada pode indicar, nem de perto, uma união singela entre opostos, algo que de repetente fosse trabalhado, mas sem previsão para acabar ou mesmo um sentir-estar sem efeito colateral que de repente invada sem medir, sem calcular antes, mas com os pés bem firmes no chão.
Poucas pessoas ousam beber esse vinho, talvez, devido a tantos discursos caminhando tortos em nossa direção, talvez pela descrença pregoada da velha razão que sempre tem medo de se ferir, querendo a perfeição, ou mesmo, pela emoção esperando ainda que ferida, diante do espelho mágico, o final feliz. Por isso, há tanta gente embriagada nas caminhadas da vida, tanta gente desencontrando os passos e tropeçando nas calçadas, vomitando muita razão distorcida e cheirando mal as suas emoções recolhidas.
Infelizmente há muita gente buscando uma fórmula mágica nos livros de auto - ajuda e tropeçando no abainhado de suas indecisões; sem saber que a emoção e a razão não se abraçarão em qualquer mesa de bar, nem mesmo nas madrugadas frias dos solitários, mas caminham de mãos dadas sem calcular a distância a percorrer. É muito óbvio isto.
Se você é muito sentimental e continua esperando da vida uma chance igual a jogador de loteria, ou se você é racional a ponto de ser tão frio com a sonhada sorte dos sentimentais, é necessário olhar ao lado e ao longe, porque certamente a equação: razão de x + a emoção de y não será a soma dos catetos nem da hipotenusa, mas tão somente a divisão dos meios e dos extremos numa intersecção de conjuntos diferentes, mas harmoniosos entre si.
O entendimento disto se dá quando nos desprendemos das velhas fórmulas mágicas e nos banhamos nas águas mornas da paciência, sem tentar entender o rumo e o fim que transcorre o rio, esperando com alegria a dor e o sofrimento e percebendo o gosto doce depois de engolir um cálice amargo. A vida nos ensina isto a todo instante.
Nessa direção, só os entorpecidos de emoção cheios de sonhos que nunca se realizaram, não conseguem enxergar a felicidade, por continuar tomando aquele porre de sensibilidade e se embriagando de paixão, caindo aqui e acolá, procurando cicatrizar-se nos hospitais do tempo. Enquanto a razão, de tão fria, calculista e incrédula não consegue enxergar um palmo diante de seu nariz sem perceber a beleza das flores, o canto dos pássaros e a simplicidade do nascer do sol por ser tão preguiçosa em observar os pequenos detalhes no outro, detalhes que fazem a diferença.
Enquanto não entendemos o compasso que a vida dá, fiquemos a observar os animais que sem nenhuma razão nem emoção usam o instinto, inserindo em nós uma lição harmônica de amores e conflitos em busca da sobrevivência, sem nenhum medo de se ferir e sair na chuva, mas corajosos, firmes e confiantes ao ir à caça, pois os animais não dão tiro no escuro como nós, ao contrário, eles medem seus passos como os racionais e dão o bote, por outro lado se emocionam e se divertem igual a um pinto no lixo depois de abocanhar a presa, porque em seu instinto estão lado a lado os opostos, que não se atraem somente, mas se completam e se abraçam.

Até à próxima.
André Silva

Quem é o meu próximo?
Essa foi a indagação feita a Jesus e a todos que o rodeavam, para nós essa indagação sobrepuja tudo o quanto percebemos ao nosso redor e olhamos sem ver o que vemos dentro de nós mesmos, porque fora de nós, apenas medimos ou intercalamos limites para o próximo que nunca foi próximo e geralmente esquecemos o próximo que está perto, mas bem distante, e ficamos sem saber quem é o nosso próximo, simplesmente porque o nosso próximo transformou-se em interrogação, logo vem a pergunta: quem é o meu próximo?
Ao responder essa curiosa pergunta, Cristo mostra diante dos nossos olhos um personagem distante, mas bem próximo nosso, embora distante de nossas expectativas, porque aquele que geralmente faz o bem ao próximo não o vê, mas no intervalo de tempo em que alguém precisa de sua ajuda, o próximo já está dentro de si mesmo, ou seja, só enxergamos o próximo quando o próximo está dentro de nós e não ao lado.
Nessa direção, se observamos o próximo por esta ótica, contemplaremos com júbilo o segundo maior mandamento bíblico: “amar o próximo como a si mesmo”. És a razão de Cristo mais tarde dizer, que no fim dos tempos o amor de muitos se esfriaria. (Mateus 24.12) Ora, se o próximo não mora em mim, então não posso amá-lo, posso acariciá-lo, posso falar com ele todo dia, mas não sinto com ele suas dores, ele apenas é um alguém que vejo sem ver, porque se esse for o meu próximo, com certeza eu carregarei suas dores comigo. Cristo foi o maior exemplo disso, Ele morreu por nós, por que nós estávamos dentro dEle, então, quem é o nosso próximo? Olhe dentro de você e responda a pergunta.
Não quero com essa afirmação, propagar o assistencialismo já fadado em si mesmo, que prolifera mundo a fora com ofertas grandiosas de pão e dinheiro, até porque o assistencialismo também não enxerga e não sabe quem é o seu próximo, por também não sentir as suas dores, tem muita gente enganada com suas doações, pois doam alimento, mas não doam o coração. É necessário fazer como o bom samaritano, (Lucas 10.33) além de doar uma boa hospedagem ao ferido, ele mesmo tratou de suas feridas, por isso já está provado: os médicos que chegam mais próximos do paciente têm maiores resultados, os pais que assistem mais de perto seus filhos ganham mais respeito e confiança, porque não é apenas um brinquedo, nem uma receita, mas um olhar, um toque, uma fala, um gesto.

Quem é o meu próximo? Descobriremos isso na oração do Pai nosso, mas às vezes nos passa despercebido tanta coisa nessa oração, pois ela virou reza costumeira de palavras puramente repetidas e não uma conversa, um desabafo com o Pai, afinal: “que seja feita a tua vontade assim na terra como no céus”, mas qual é a vontade de Deus? Que amemos uns aos outros, que nós venhamos a fazer a vontade dEle aqui e agora, caso contrário, essa vontade não se estabelece nem aqui nem lá no Reino Celeste, então, se eu não enxergo meu próximo, como posso proferir essa oração? Se eu julgo, não vou com a cara, não suporto, então se torna pura hipocrisia fazer da oração modelo, minha oração diária, quando o dono da oração: Jesus Cristo, nos manda amar o nosso próximo, nele, com ele, por ele, pois sem ele, o meu próximo passa ser o meu umbigo, meu centro das atenções, mas o verdadeiro cristão o ama como a si próprio, porque assim pediu o nosso Pai que está nos céus, então amemos, mesmo sem vê-lo.
O que me deixa maravilhado com Jesus é que Ele não tem nenhum rabo preso com sistemas ou ideologias, culturas, crenças e opiniões, ao contrário, Jesus declara que o nosso próximo não é apenas aquele coitadinho a quem mandamos a cesta básica, nem mesmo aquele a quem temos dó, mas o nosso próximo também são as pessoas a quem nos odeiam ou odiamos, logo: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos maltratam, para que sejais filhos do Pai que está nos céus, pois se amardes os que vos amam que galardão tereis? Não fazem assim os publicanos?” (Mt 5.39-48) Com isso Cristo estabelece uma regra básica de sua pedagogia a qual desmantela todo esse sistema social que impera hoje: Se alguém não ama aquele a quem está vendo, como pode amar a Deus a quem não ver? (1ª João 4.20) Para a sociedade, temos que amar aqueles que nos amam e sentenciar à “morte” todos aqueles que atravessam em nosso caminho, para a cultura que rege nossa sociedade, o nosso próximo é aquele a quem nos faz bem, é aquele coitadinho a quem devemos ajudar nas grandes campanhas contra fome para sermos bem vistos na sociedade e aplaudido por todos, mas não se engane! Isso é apenas “assistencialismo”, pra ser amor mesmo, o próximo tem que está dentro de você como uma dor que lateja.
Quem é o seu próximo? Sinta a dor dele e conhecerás, chore com ele e ficarás sabendo, permita-se doar, ame, perdoe, dê a sua outra face e descobrirás o seu próximo e com ele terás um grande galardão aqui e lá no céu junto ao Pai que o espera no reino dEle na glória, nos céus.

Até à próxima!
André Silva