Há muito tempo venho refletindo a cerca da dor, da separação, da angústia que tanto rodeia o ser humano, venho observando o crescente mercado de livros exclusivos para abordar os danos causados em nós pelo outro, observo também o quanto há de distorção, principalmente nas soluções trazidas na auto-ajuda dos livros de autores que nunca vivenciaram nossos conflitos interiores, mas se sentem habilitados em tratá-los, por outro lado, até agora, os amores mal - resolvidos e as tragédias as quais se inserem como fuga da realidade, analisa-se e diagnostica-se com uma distorcida resposta: solidão. Então, seria a solidão ofensiva ao ser humano?
Infelizmente, se levarmos em consideração a cultura latino - americana, veremos que desde pequenos, somos ensinados com afinco o tema da vitória, somos impelidos a ganhar sempre, ser o segundo lugar é o mesmo que ser o último, os elogios é pra quem está no topo e não para quem se esforça, reflete e caminha, da mesma forma, com essa mesma cultura, fomos ensinados a conquistar a felicidade como um troféu, como uma nota escolar e no campo, na quadra ou no campo dos sentimentos fracassaremos se não tivermos a mesma trajetória dos que já venceram, existem para muitos uma fórmula mágica e isto é tão real que recorremos a quem quer que seja por uma solução aos nossos problemas. As cartomantes riem de nós, os signos do zodíaco, já fadado em sim mesmo, cansaram de repetir nos jornais as mesmas previsões, mas não enxergamos ainda, pois o caminho para se conseguir a felicidade é grande e árduo, por isso, acreditam muitos, precisarem sempre de um empurrãozinho da sorte, das cores, da lua, do sol, mas nunca paramos para refletir o que de fato está faltando.
Observando por este prisma, quando o Aurélio nos responde o que venha ser solidão, muitos não entendem, portanto é “Estado de quem se acha ou vive só”. Se você analisar melhor o contexto, o estado de solidão não é a exclusão de companhia, o Aurélio não diz isto, não é um isolamento depressivo, ao contrário, muitos casais se beijam, mas vivem solitários, dividem a mesma cama e muitas vezes a felicidade não se estabelece ali, logo o conceito dado pelo dicionário não é esse, pois excluiria a vontade soberana do criador que disse: “Não é bom que o homem esteja só...”, é bem verdade que sozinho nascemos, fomos acompanhados em nosso crescimento, mas as descobertas foram feitas a sós: a primeira queda, o primeiro levantar, o primeiro beijo, a primeira paixão e toda vez que descobrimos algo sozinhos, vibramos como se fosse mais um ponto adquirido na escola da vida, ninguém é feliz quando o outro descobre por nós, ninguém se sente bem sendo parasita, somos obstinados a conquistar todo o caminho o qual nos foi dado, por outro lado, vencer para muitos ainda é conquistar, entretanto os mais maduros já perceberam que vencer é perder às vezes.
Nessa direção, excluímos a solidão de nossa lista de amizades e não percebemos o quão amiga ela é, não só no momento de lágrimas, mas também no momento de alegria e plena felicidade, até por que poucos param para refletir no bom momento, acreditam que a felicidade se auto sustenta numa coluna de ferro para sempre e quando a chuva vem, o ferro se desgasta e corrói o que antes era sólido e sem abrigo, ficamos com medo, porque nunca fomos ensinados a conversar com ela, manter um diálogo com a solidão, porque se auto - conhecer, é buscar em si respostas que outros nunca nos darão, pois cada problema é único, ninguém sofre igual, ninguém chora igual, ninguém é feliz igual e ainda que tenhamos um tema para cada um, todos terão reações diferentes, por isso se gasta tanto dinheiro com analistas, psicólogos e remédios e os problemas continuam, cansamos a vista para saber qual a roupa que devemos usar, o perfume, o número da sorte e tudo continua igual, tudo isto por que não temos a cultura da reflexão, da tomada de posição - contra, do encontro conosco a sós, por que nossa cultura ainda alimenta a falácia de que ficar a sós e fazer análise de nós mesmos é solidão e solidão é ruim, é desastroso, é angustiante e depressivo.
Ainda que estejamos bem, devemos adotar a solidão como amiga e companheira, pois no gozo não se reflete, apenas deixa acontecer, nas maravilhas da emoção, o que vier e depois se machuca, quando já é tarde e o que vem nesse após não é solidão, é ressaca de tanto porre de emoção acostumada, que pra tratar demora, dói, causa dores existenciais e suicídios, tudo por que não adotamos a velha conversa ao espelho: “o que queres de mim? O que estás fazendo? É esse o caminho pelo qual deves percorrer? Ao contrário, buscamos sempre saber do outro que posição devemos tomar diante de nossos objetivos, quando a resposta está em nós e não no outro, porque o outro tem objetivos diferentes, embora estando debaixo do mesmo tema. Mas é necessário saber: ninguém consegue dialogar com a solidão se não é capaz de amar a si mesmo.
Ao acordar num dia tão feliz de minha vida, refleti:
__ Preciso me encontrar a sós comigo mesmo...
E ao me olhar no espelho da vida, vi meu passado e muitas dores, mágoas escondidas e ri de tudo isto e me alegrei com tanta dor acumulada e ao conversar sobre meu presente, verifiquei que estou comento erros gravíssimos, olhando pra mim disse:
__ Preciso voltar ao começo de mim e me refazer por inteiro, ainda tenho muito a acrescentar ao mundo e aos outros, tenho ainda um punhado a mais de felicidade acumulada para semear aqui e agora, portanto não posso deixar que um casmurro se instaure em mim como uma segunda pele sem a minha permissão, preciso me abraçar mais com a solidão que chega de mansinho, carinhosa, pois ela me entende, me deixa ser o que sou, me deixa sentir o que quero, me deixa amar, a solidão me deixa pensar por mim e escolher sozinho o que quero sem precisar me trancar no quarto e me esconder, pois a vida é pra ser vivida.
Ao terminar o diálogo, tudo mudou, aquele ser feliz saiu mais ávido, mais determinado a buscar, a ser, a pedir desculpas, a chorar, a rir, a abraçar, a amar e bem mais consciente de mim e, sem tomar porres de emoção, pude fazer consciente o que deveria ser feito, porque na emoção o máximo que eu conseguiria seria um momento de prazer como um algodão doce, daqueles quando o vento bate, diminui como um bolo de chocolate com cobertura de chantilly que logo enjoa e esse prazer temporário o qual almejamos no agora é rápido e só satisfaz o corpo, enquanto a alma continua aprisionada e insatisfeita, gerando com isso, angústias, frustrações, medos, traições, embora sabemos que o já é gostoso, mas quem disse que tudo que é gostoso é bom e satisfaz? Aquilo que acende os nossos olhos de espanto, beleza e nos tenta a desejar, pode ser uma armadilha, a armadilha do corpo, dos olhos, do sorriso, mas com a solidão ao lado a tentação foge, porque passamos a analisar com calma:
__ O que faço? Será que me dará pleno amadurecimento, me engrandecerá enquanto pessoa? Ou será mais um prazer em curto prazo?
Vale a pena aconchegar-se a solidão, vale a pena tê-la como companheira nas horas de alegria, pelo menos, ela não usará a mascará de amor agindo como amante, traindo os nossos sentimentos, nem mesmo irá querer tirar proveito de nossa situação, antes ela vai jogar limpo, vai ser transparente, não nos dará vinho de emoção, nem o gozo é o seu presente, porque sabe muito bem que a felicidade mora no após de nós mesmos e que sem tomada de posição contra, sem reflexão contínua de si mesmo, continuaremos a nos embriagar e nos enganar, por isso, não morra para a vida, senão não valeu a pena você estar aqui, não valeu a pena ter fé em Deus, não valeu a pena colocar um sorriso no rosto diante do espelho ou mesmo calçar aquele sapato que você tanto queria, portanto saia daí, viva, tem um mundo lá fora esperando por você, essa tristeza com cara de Amélia arrependida não é solidão, viva, ame, descubra-se, mas antes reflita, mesmo alegre, para não se machucar outra vez e se houver dificuldades, Deus é fiel e não lhe dará pedras acaso você peça pão. (Mateus 7.9)
Sendo assim, viva a felicidade consciente e a solidão que nos proporciona essas belas paradas em nós, por nós, conosco no outro, pelo outro, para podermos a qualquer momento olhar no olho, sem medo de dizer: sou feliz em mim, contigo e também a sós, por que a felicidade se faz presente da mesma forma que a solidão, por isso amo a mim e a ti, independente de ti, de outros, alegro-me na felicidade, porque não é uma mera conquista, mas um espaço garantido por mim e toda vez que a solidão me chama, a felicidade me abraça e saímos de mãos dadas os três, sem medo, por refletir sozinho o que quero, o que gosto, fazendo sem mágoas, sem rancor, sem embriaguez emocional, sem a frieza racional, mas consciente no meu ser em ser, por ser feliz comigo, no outro, feliz.
Até à próxima!
André Silva
2 comentários:
Viver com a solidão nem sempre é ruim ao contrário é boa,se torna nossa amiga quando não temos quem nos ajude fisicamente(pq Deus é o nosso auxilio)de certa forma ela acaba tomando forma corporal senta ao nosso lado e nos faz ver quem realmente somos!estou bem com minha solidão.
A paz do Senhor, irmã Ruama
Espero que você tenha apreendido nessas palavras o meu recado.
Que o Senhor Jesus faça você e todos jovens verem as questões sentimentais com mais segurança e madureza.
Em Cristo,
André Silva
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